Entrevistas

 Letras em diálogos: entrevista com Marllon Borges, estudante de Letras da Ufop

Há algum tempo, eu venho martelando a criação de entrevistas aqui para o blog. Longe de ser um jornalista e não me proponho, de forma alguma, a assumir o papel de um, a ideia, para esta seção, é abrir um espaço para falar sobre esse universo das palavras, seja por meio da literatura, da pesquisa acadêmica, da tradução, da crítica literária ou da escrita criativa. A proposta, aqui, é dialogar sobre esses caminhos e ouvir estudantes, professores, autores, tradutores e leitores que estão conectados com as grandes esferas do texto.

Inaugurando nossa nova seção de entrevistas aqui no blog, eu conversei com uma pessoa que tenho grande admiração e conheci durante a minha trajetória no curso de Letras: Marllon Isidorio, graduando em Letras Licenciatura em Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Ouro Preto.

Foto do arquivo pessoal do entrevistado.
  1. Marllon, primeiramente, gostaria de agradecer por ter aceitado esse convite para falar sobre a sua trajetória no curso de Letras. Me conta um pouco sobre a sua escolha pelo curso de Letras e o que te levou a optar por essa área?

“ Quando percebi que a Letras era muito maior do que eu imaginava, senti-me acolhido de verdade.”

Eu agradeço imensamente pelo convite, Dalyson. Bem, a princípio, devo dizer que Letras, até o meu terceiro ano do Ensino Médio, não foi uma opção. Se quer passou pela minha cabeça ingressar nessa área, e isso não por um preconceito com a área, mas por eu realmente não ter, até aquele momento, me enxergado na Letras. Minha família quis, conforme uma expectativa que eu mesmo criei, que eu cursasse Medicina Veterinária, pois sinto um amor indizível por animais. Até certo ponto, pareceu-me uma boa ideia, mas quando levantei questões sobre a própria área, passei a me desver naquele campo. Ironicamente, a profissão de professor era algo que sempre surgia quando eu pensava em minhas possíveis carreiras. Desde sempre eu queria cursar algo e me especializar na área para ser um docente. Assim sendo, considerei cursar Medicina Veterinária e obter título de mestrado para lecionar anatomia – sim, eu tinha até em mente a área que eu gostaria atuar [risos]. Mas, conforme ia avançando a minha formação escolar, outras áreas vieram em minha mente, como docente em geografia, história e até mesmo filosofia. Eu sempre me senti satisfeito com a possibilidade de ensinar a outras pessoas e ter a possibilidade de ver um estudante se formar e ser ajudado pelos meus ensinamentos. Em minhas apresentações em sala de aula, os professores costumavam dizer, “você deveria ser professor”; “nossa, você deu uma aula, hoje!”. Todos esses incentivos foram fundamentais para eu ter certeza de que a docência era o caminho. Mas, então, ficou a dúvida: “qual área?”.

Eu sempre fui um estudante questionador e, de certo modo, “militante”, e isso me fez enxergar a história como a área mais viável para mim. Além disso, português não era a minha disciplina mais amada até o terceiro ano do Ensino Médio, quando pude enxergar na literatura e na própria língua portuguesa, algo diferente das outras disciplinas. Durante a pandemia do Coronavírus, a escrita foi a minha forma de escapatória e de superação à depressão. Foi por meio da língua, da literatura – em especial da poesia – que pude ver beleza na vida e o encanto que as palavras possuíam. Ao longo do meu último ano, fui me aprofundando mais nisso, conhecendo mais da literatura, não somente como entretenimento e arte, mas como uma forma de eternização de sujeitos, emoções, períodos e da própria língua. Claro, hoje posso dizer que ela é muito além disso. [risos] Aliás, minha marca registrada em minha turma no curso de Letras é meu uso de mesóclise e, por incrível que pareça, foi esse conteúdo – próclise, mesóclise e ênclise – que me fez dizer: “é isso, eu quero entender e ensinar a língua portuguesa”; nunca havia pensado no quão bela era a língua. Tinha muita coisa que eu precisava conhecer sobre. Bem, realizei o ENEM, sem sequer ter uma noção real de como estruturar uma redação, mas deu muito certo, até mais do que eu esperava. Assim, até chegar o Sisu e eu ficar apreensivo sobre ir ou não para a Letras ou para o Jornalismo. Hoje em dia eu fico muito, muito contente por estar onde estou. Claro, não há palavras que descrevam o “bum” que foi chegar aqui [ICHS]. Quando percebi que a Letras era muito maior do que eu imaginava, senti-me acolhido de verdade. A sensação de se encontrar no curso em que está, não há palavras que possam dar nome ou descrição. É, no mínimo, emocionante e incrível.

  1. Que trajetória incrível, Marllon. Tenho certeza de que a academia e os estudos dentro da área de Letras ganharam e continuarão ganhando com as suas produções. E hoje, você poderia falar um pouco sobre o que pesquisa no curso de Letras?

“Foi nesse momento que passei a pesquisar sobre o homoerotismo em poemas latinos, como em Catulo e Marcial. Inclusive, esse foi o tema do meu trabalho final para a disciplina, “A matéria homoerótica na poesia latina: um contraste entre Catulo e Marcial”, na qual explorei as convenções sociais romanas sobre as relações homoeróticas e o modo como elas são apresentadas na poesia, fosse o vitupério, isto é, em forma de ataque, ou como matéria amorosa.”

Tal qual a minha escolha pelo curso é recheada de ironias, a área com o qual me identifiquei está no mesmo patamar. Meu primeiro contato com o curso foi assustador. Havia um homem na sala de aula falando, falando e falando, cuja retórica impecável era também assustadora, me fez questionar a todo momento o que estava fazendo naquela sala. Era um docente de Estudos Clássicos. Eu sai da sala de aula tão assustado, que cheguei a chorar quando sai do ICHS. Nossa, me senti extremamente inferior e incapaz. Conto isso porque foi justamente por essa disciplina – que tanto me assustou – que me senti completamente atraído, depois. Eu confesso que sou muito curioso e nessa disciplina, senti-me atraído por entender as transformações sociais, em especial na literatura.

Em meu último ano no Ensino Médio, tive meu primeiro contato com uma literatura que trazia diversidade. Então passei a explorar obras com personagens LGBTQIAPN+, levando-me a desejar entender como funcionava e se ocorriam relações entre pessoas do mesmo sexo nas sociedades responsáveis pelos três grandes poemas épicos que tanto me encantaram, Ilíada, Odisseia e Eneida.

A medida que a disciplina corria, me sentia cada vez mais atraído. No segundo período, então, quando cursei uma disciplina eletiva de Estudos Clássicos, cujo tema era Sátiras, nossa, foi incrível. Foi nesse momento que passei a pesquisar sobre o homoerotismo em poemas latinos, como em Catulo e Marcial. Inclusive, esse foi o tema do meu trabalho final para a disciplina, “A matéria homoerótica na poesia latina: um contraste entre Catulo e Marcial”, na qual explorei as convenções sociais romanas sobre as relações homoeróticas e o modo como elas são apresentadas na poesia, fosse o vitupério, isto é, em forma de ataque, ou como matéria amorosa. A partir dessa fantástica experiência, passei a buscar em outros poemas, como nas Metamorfoses, de Ovídio, o poema sobre Narciso, por exemplo, muito homoerótico [risos]. E desde então tenho cursado Língua Latina, objetivando realizar pesquisas nessa área, posteriormente. Outro tema muito fascinante, para mim, foi em Brasileira I, quando explorei a ekphrasis em meu trabalho final. Trata-se, a grosso modo de dizer, de uma técnica retórica de descrição não realista, utilizada engenhosamente por Botelho de Oliveira, por exemplo, ao se referir à Anarda. Estou especificando de forma bem superficial mesmo, mas em breve tenho planos com o professor que mais admiro, o Alexandre Agnolon, em fazer uma pesquisa sobre essa temática homoerótica.

Estou, atualmente, pensando no objeto de estudo. Mas, falando em pesquisas, atualmente sou bolsista, pela CNPq, de uma Iniciação Científica que explora a escrita acadêmica no âmbito da revista caletroscópio, com um viés prático no processo editoral dessa revista científica vinculada ao Programa de Pós-graduação em Letras da Ufop. A princípio, estou lidando com essa parte prática de entender o funcionamento do processo editorial, auxilio os editores no sistema da revista, realizo revisões de cunho linguístico e formatação ABNT e realizo outras tarefas voltadas a esse processo, desde registros à publicações. Estou adorando, por sinal. Graças a essa pesquisa e, em especial, a você, tive uma expansão maravilhosa sobre o campo de atuação de graduados em Letras no mercado editorial, como um dos caminhos viáveis. Posso dizer que são pesquisas e interesses muito enriquecedores, para mim.

  1. Nossa, Marllon, é, realmente, perceptível a sua admiração e interesse pelos Estudos Clássicos. Fico muito feliz em ver seus interesses se entrelaçando dentro da academia. E falando em compartilhar saberes, você apresentou na XVII Semana Nacional de Letras da Ufop, sim?! Conta pra gente como foi essa experiência. Em qual simpósio você participou, qual foi o tema da sua apresentação e como foi pra você vivenciar esse momento de troca acadêmica?
Foto do arquivo pessoal do entrevistado.

“O meu trabalho tinha como foco os poemas homoeróticos de Catulo e Marcial em abordagens contrastivas, na qual explorei de Catulo o conjunto de poemas nomeados “Ciclo de Juvêncio”, cujos poemas são dedicados a esse jovem, e a matéria do poema possuem um teor amoroso. Os poemas que escolhi de Marcial, em contraste, trazem consigo o teor vituperioso, isto é, de ataque ao homoerotismo na Roma antiga.”

A XVII Semana de Letras foi incrível. Recordo-me de ter lido sobre os Simpósios Temáticos e, dentre eles, estava o Simpósio sobre “Poética, Retórica, Recepção: a antiguidade e a longa duração”. Eu fiquei muito interessado em expor a pesquisa que realizei no segundo período, a que mencionei anteriormente. A pesquisa que fiz sobre o homoerotismo na poesia latina. Mas, assim, eu não tive vontade e fui diretamente submeter o trabalho. Eu fiquei extremamente ansioso sobre isso e acabei pedindo alguns conselhos, dentre eles, o do meu estimado amigo e entrevistador, Dalyson. Sério, eis uma das opiniões que mais considero em todo o ICHS [risos]. Mas, enfim, eu aceitei ao conselho e encaminhei um e-mail ao professor que ministrou a disciplina sobre Sátiras. Ele me orientou e auxiliou na organização do paper. Eu estava muito apreensivo, mas pelo que me dizem, foi uma excelente apresentação. O meu trabalho tinha como foco os poemas homoeróticos de Catulo e Marcial em abordagens contrastivas, na qual explorei de Catulo o conjunto de poemas nomeados “Ciclo de Juvêncio”, cujos poemas são dedicados a esse jovem, e a matéria do poema possuem um teor amoroso. Os poemas que escolhi de Marcial, em contraste, trazem consigo o teor vituperioso, isto é, de ataque ao homoerotismo na Roma antiga. Claro, enfatizando que tanto Catulo quanto Marcial possuem poemas de ambas matérias, mas selecionei esse contraste como elucidador das abordagens existentes. Do mesmo modo, trouxe informações recolhidas ao longo da minha pesquisa que apresentam os aspectos sociais das relações entre homens naquela sociedade. As relações eram entre homens mais velhos e mais novos, mas somente entre um cidadão e um escravo. Ressalto que para aquela sociedade, esse sistema escravista era natural. Havia ainda uma aversão a condição de passividade, na qual muitos poemas ridicularizam alvos atribuindo aos personagens essa posição na relação. Era inadmissível um cidadão romano exercer a passividade em relações desse tipo. Resumidamente, esse era o conteúdo da minha apresentação. E confesso que reduzi muito o trabalho original, pois ele tinha 40 páginas e precisei reduzir para 10, salvo engano. Enfim, a experiência foi magnífica. O nervosismo é natural, mas a apresentação se desenvolveu muito bem e, ao fim das exposições, todas as pontuações, desde os responsáveis pelo Simpósio aos convidados, foram muito pertinentes e me ajudaram muito a pensar melhoras na minha pesquisa. Foi uma experiência impressionante, não tenho o que reclamar. Assistir as demais apresentações também foi espetacular, pois pude ter uma dimensão grandiosa das pesquisas e pesquisadores da área.

  1. Eu fico lisonjeado com o comentário, mas o mérito é completamente seu. Eu tive a oportunidade de assistir a apresentação e garanto que você apresentou muito bem e deu um show. Foi aplaudido pelo nosso querido Jacyntho Brandão. Até agora, pensando na sua trajetória acadêmica, durante a sua formação, de um modo geral, quais desafios você encontrou ao longo do caminho?

“Há um abismo entre tudo isso, mas ter que entender essas diferenças sozinho, sendo o primeiro da minha família em uma Universidade Pública, foi muito desafiador.”

Nossa, essa pergunta é excepcional. Para mim foi muito desafiador desacostumar com a minha zona de conforto. No Ensino Médio e até mesmo no curso Técnico que fiz – na área de meio ambiente – tudo era muito previsível, de certo modo. As leituras não eram tão extensas e os trabalhos eram trabalhados paulatinamente. Na Universidade, parte disso se manteve, mas precisei aprender a lidar com múltiplas leituras ao mesmo tempo e aprender a me reorganizar, administrar melhor o meu tempo e buscar otimizar toda a minha rotina, sem que eu me prejudicasse nos estudos. Junto a isso, tentar entender a Universidade em si. Estar apto a estudar, aprender e fazer o que era necessário. Tanto é que no primeiro semestre, no primeiro ajuste de matrícula que fiz na vida, adicionei duas disciplinas eletivas [risos]. Foi desafiados entender o sistema da MinhaUFOP, compreender o funcionamento da Universidade, as bolsas, as aulas, as salas… Nossa, foi muito desafiados entender tudo isso e me familiarizar com uma instituição totalmente diferente das que conheci no ensino básico ou do SENAI, onde cursei o Técnico e o Qualificação como Assistente Administrativo. Há um abismo entre tudo isso, mas ter que entender essas diferenças sozinho, sendo o primeiro da minha família em uma Universidade Pública, foi muito desafiador. Apesar de algumas explicações, eu, particularmente, me sentia no escuro. Nunca foi tão claro para mim essas coisas. Mas com o tempo e o entendimento, tudo se tornou mais fácil, digamos assim. Recordo-me que tentei abraçar o mundo no primeiro período e foi muito exaustivo, mas com o tempo, aquela êxtase de calouro foi diminuindo e percebi que não havia porquês para temer, pois tudo se encaixaria uma hora ou outra. Ah, sim, e não posso esquecer a timidez, nossa, foi terrível conseguir puxar assunto com um colega de turma [gargalhadas], eu sou muito tímido. Ah, sim! Outros desafios que enfrentei, também, foi compreender os vários gêneros textuais e a escrita acadêmica. Inclusive, compreendo que são habilidades que se aperfeiçoam com o tempo, mas cheguei na Universidade sem saber o que é uma resenha crítica [riso envergonhado], e a primeira vez que ouvi sobre isso, na aula de Estudos Literários I, eu fiquei pasmo. Mas após ler exemplos e pesquisar, comecei a entender melhor o meio acadêmico, que por sinal, era completamente diferente, na minha mente. Era menos amplo, na verdade. Somente com o tempo eu fui percebendo quão vantas é a academia. Esse fato em si também é um desafio, pois são entendimentos que não são adquiridos previamente, às vezes.

  1. Marllon, e olhando para o futuro, quais são os seus planos acadêmicos e profissionais? Você já tem algo em mente para o que espera depois da graduação, como um mestrado, atuar em alguma área específica com a habilitação escolhida?

“Mas, enfim, eu achei o mercado editoral um campo muito viável e eu adoro trabalhar com textos, tal qual sou Designer Gráfico também, então compreendo de diagramação e confecção de artes para capas de livros e afins”

Desde que entrei na universidade, tenho pensado bastante sobre esse assunto, mesmo. Mas posso dizer que me tornar um pesquisador é, sem sombra de dúvidas, minha principal meta. Especializar-me na minha atual área de interesse, os Estudos Clássicos, é algo que desejo para meu futuro profissional; a obtenção de mestrado e doutorado é o que desejo alcançar com toda essa jornada de aprendizado. Mas, claro, atuar em sala de aula é também uma das etapas que desejo percorrer. Atualmente tenho retornado à sala de aula para realizar atividades do projeto de extensão Áfricas em Trânsito e esse retorno me auxiliou bastante a perceber que eu realmente gosto muito de poder ensinar e, acima de tudo, ajudar alunos e alunas com empecilhos em sua formação, como bem tenho notado em algumas crianças após a pandemia da Covid-19. Bem, ensinar é algo maravilhoso e quero muito poder ser um professor bom, seja no ensino básico ou para alunos da graduação. Mas, sou obrigado a destacar outra área a qual tenho sentido muito interesse, a revisão textual. Atualmente realizo revisões de obras literárias para a Editora Sunbee, uma nova editora com foco em produções literárias com representatividade. Realizei, até o momento, a revisão de quatro obras da editora, duas das quais já foram publicadas, Jogo da Conquista, da Anna Andrade; Luz e Lua, da Rah Guerra. E outras duas que serão lançadas ainda e estarão na Bienal do Rio de Janeiro, são elas Azul da cor do mar, da Isabela, cujo pseudônimo é Bacoaquiles; e O namorado da minha mãe é um vampiro, do Italo Braga. Não irei me alongar muito neste tópico [risada]. Mas, enfim, eu achei o mercado editoral um campo muito viável e eu adoro trabalhar com textos, tal qual sou Designer Gráfico também, então compreendo de diagramação e confecção de artes para capas de livros e afins. Mas, sinceramente, trabalhar com a editora Sunbee tem sido algo muito interessante e especial para mim, principalmente por admirar demasiado as fundadoras e por serem obras que representam a comunidade LGBT+ e estar crescendo e abrindo portas para novos autores. Mas claro, há o meu interesse pessoal envolvido nisso, uma vez que desejo publicar com essa editora também. Em resumo, posso dizer que a sala de aula é o lugar onde desejo atuar. A princípio no Ensino Fundamental II e Médio e posteriormente na Universidade, especialmente na área que tanto me apaixonei. E, pelo lado bom, tenho muito tempo até lá, o que me fornece espaço para atuar como revisor, conforme lhe disse, e também me dá espaço para melhorar meu entendimento de Latim, afinal de contas, ser professor e pesquisador de Clássicos sem dominar intermediariamente tal língua é… complicado [risos].

  1.  Marllon, eu não tenho palavras para agradecer por ter aceitado fazer esta entrevista. Em uma última pergunta: se você pudesse deixar um conselho ou uma mensagem para quem está começando agora no curso de Letras, ou pensando em seguir esse caminho, o que você diria?

“O curso de Letras é incrível. Você será capaz de conhecer muitas áreas incríveis, desde a linguística à literatura, mas nenhum campo se restringirá àquilo que aparenta.”

Eu quem agradeço o convite para estrear essas entrevistas, e principalmente por ceder esse espaço para essa compreensão da vida acadêmica dos estudantes de Letras. Acredito que esse movimento seja muito significativo e para aqueles que se propõem a ler seu blog e suas publicações no Instagram, será enriquecedor. Mas, voltando a sua pergunta principal, uma excelente pergunta por sinal, irei refletir como alguém que gostaria de ter tido uma fala assim lá no início de minha formação. O curso de Letras é incrível. Você será capaz de conhecer muitas áreas incríveis, desde a linguística à literatura, mas nenhum campo se restringirá àquilo que aparenta. É sempre melhor e mais profundo do que nós pensamos e vemos. Mas, no final, você se vê completamente alterado. Você se descobre e se remolda a partir de cada etapa de conhecimento. As pessoas se transformam neste curso. Aconselho sempre a estar de mente aberta para os debates e discussões, recomendo – obviamente – a leitura do que é proposto, a participação ativa dentro e fora de sala de aula; aconselho que antes de mais nada, descubram o campus, descubram suas amizades e seus professores. Tenham em mente que a Universidade não é o fim, mas o meio; um meio para descobrir seu curso e a si mesmo. A Letras também não se restringe à sala de aula, há uma gama de possibilidades que você como estudante pode explorar e descobrir por si só o que mais se adequa a você; especialize-se. A Universidade oferece muitas oportunidades, também. Explore tudo isso. Aprenda uma nova língua e, acima de tudo, absorva o máximo que puder em seu próprio ritmo. Nós, alunos, somos responsáveis pela nossa formação. E claro, não enxergar o curso pela óptica da negatividade da desvalorização, pense naquilo que você pode construir para si próprio e a comunidade em sua área de atuação. Seja como professor, editor, revisor, redator, tradutor, pesquisador, seja na área que for. Dê seu melhor. Escolha aquilo que compete às suas habilidades e aprendizados. Mas, acima de tudo, aproveite ao máximo sua graduação, dentro e fora do campus; saia, quando puder, da sua zona de conforto e explore ao máximo de si mesmo durante sua jornada. Como eu disse, entrar na universidade é a primeira vitória, daí para frente só você pode determinar sua jornada e, assim sendo, você decide qual será seu trajeto. Bem, acredito que seja esse o meu conselho. Parece bem filosófico e pré-formado, mas é bem sincero. Afinal de contas, a linguagem não é uma abstração de regras e estruturas arbitrárias, mas um evento social, na qual nossas interações sociais constroem significado juntos, não é assim para Bakhtin? Pois bem, tendo em mente esse conceito, esse conselho fará sentido a partir de quem acompanha essa entrevista e eu espero que possa constituir algo na mente de alguém. Novamente, Dalyson, agradeço pelo convite e espero ter respondido da melhor forma possível cada uma dessas perguntas muito bem elaboradas.

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